terça-feira, 6 de março de 2007

SOCIEDADE E VIOLÊNCIA

Anselmo Oliveira




Os senadores e deputados brasileiros se assanharam com a repercussão de mais um caso estúpido de violência no Rio de Janeiro que vitimou a criança João Hélio.
O foco da imprensa nacional centrou fogo no debate sobre a necessidade da redução da maioridade penal em virtude de um dos acusados do latrocínio ser um adolescente de 16 anos.
Os políticos se apressaram em defender, de acordo com o momento emocional, o que era mais convenientemente do ponto visto eleitoral, ou seja, seguindo a opinião das ruas desesperadas com o nível insuportável da violência no Brasil.
Desejo convidar você para fazer uma reflexão a partir das causas que geram a violência, e não dos efeitos, pois estes nós já conhecemos.
A sociedade é parte dessas causas, e dela ninguém escapa à responsabilidade que tem neste processo gerador da violência, seja pela opção consumista e individualista que adotamos, seja pelo imenso vão que separa a elite dos mais pobres: a desigualdade é um dos fatores a instalar no dia-a-dia da sociedade a violência.
A sociedade também é culpada pela hipocrisia no tocante ao consumo de drogas – e não falo dos maconheiros e dos viciados em crack da periferia – falo daqueles que usam e os filhos também usam mas se sentem imunes à ação da polícia e da justiça pelo poder que possuem, seja econômico, político ou social, e à vezes se auto-proclamam não violentos.
A sociedade dá causa à violência quando uma parcela pequena e nem por isso insignificante se apropria dos recursos públicos via corrupção e desvios de verbas que deveriam ser utilizadas na educação, na saúde, no saneamento e melhoria da qualidade de vida do povo mais humilde.
A sociedade é culpada quando escolhem mal os seus representantes para o legislativo, e estes se preocupam apenas em se manterem no poder, em conquistar “currais” eleitorais, em aumentar o “poder de fogo” capaz de torná-los imbatíveis nas próximas eleições.
A sociedade é culpada quando escolhem pessoas para cargos no executivo que não tenham preparo intelectual e moral para gerir a coisa pública.
Os atos de selvageria e de brutalidade que estamos assistindo são apenas os efeitos, as conseqüências de atos e de omissões da sociedade e do estado brasileiro.
Mudar a lei desviando o olhar das causas do problema não reduzirá a violência.
Mudar a lei e manter o modelo falido do sistema penitenciário brasileiro, onde os grupos organizados de criminosos mandam, apenas aumentará a violência.
Mudar a lei para extravazar um sentimento de vingança e de medo que a sociedade experimenta nesse momento, apenas reduz momentaneamente a nossa dor, é como um analgésico para um doente terminal.
Necessitamos resgatar valores, reduzir a desigualdade, investir na educação fundamental de qualidade, desenvolver este país para criar mais oportunidades de inclusão social.
O resto é pura demagogia.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo blog e pelos lúcidos conteúdos dos artigos.
    A tua atuação como acadêmico enche de esperança o coração de um professor ávido pela formação de uma cidadania participativa no Brasil.

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  2. De fato, a maioria dos crimes, inclusive o de João Hélio, relaciona-se à profunda desigualdade social, incrementada pelo neoliberalismo e pela globalização, posto que delitos cometidos contra o patrimônio.
    O problema em essência, sistêmico, não se resolve legislativamente, como deseja parte da mídia, a alienar a já tão desinformada população brasileira.
    Parabéns pelo artigo.

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